quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Un belle flâner en Paris...

Na boulangerie da Rue du Faubourg Poissonnière, o rapaz pergunta se queremos café inglês ou café francês. É óbvio que escolhemos o francês. Afinal, estávamos em Paris! Nosso petit-déjeuner se consistiu em um copo de suco de laranja, uma fatia de baguete doce, alguns biscoitos e o indispensável croissant. Um petit-déjeuner bem petit mesmo. Me pareceu que o english breakfest teria sido uma opção bem mais substanciosa. Tomamos nosso pequeno café e nos preparamos para a caminhada.

Nosso segundo dia em Paris seria dedicado à “flanar”…

A ideia era ir a pé de Montmartre até a île de La Cité, mas resolvemos nos desviar um pouco do caminho mais reto para conhecer alguns outros pontos de Paris. Assim, entramos no Boulevard de Bonne Nouvelle e passamos pela Porte Saint-Denis, um dos dois arcos do triunfo construídos em 1672 em homenagem ao rei Luís XIV nos lugares onde ficavam os portões de Paris na época de Carlos V. O outro arco é a Porte San-Martin, que fica duas quadras mais à frente.


Porte Saint-Denis

Porte Saint-Martin

Antes mesmo de chegar no segundo arco viramos no Boulevard de Sébastopol, em direção ao centro Georges Pompidou. No caminho, passamos pela Igreja Saint-Nicholas-des-Champs, que parecia estar em reforma. Da igreja, na direção da Rue San Martin, pudemos ver o segundo arco ao fundo. Passamos pela igreja e descemos até o Pompidou pela Rue Beauborg. Aliás, como soube depois, os parisienses não o chamam de Centre Georges Pompidou, costumam chamar apenas de Beaubourg.

O Pompidou é um espaço polivalente composto por um museu com uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea do mundo, uma biblioteca e espaços dedicados à musica e ao cinema. Com uma concepção original do espaço, este centro cultural foi uma revolução na área da arquitetura. Todos os canos e tubos são externos e visíveis. Os condutos de água são verdes, os da climatização são azuis, os elétricos amarelos e os elevadores e o sistema antifogo são vermelhos. O resultado é um visual tecnológico-futurista por fora e um espaço interno inteiramente livre e aproveitado da melhor forma possível.

Com ótimas exposições temporárias, o Georges Pompidou sempre foi considerado um dos monumentos mais democráticos de Paris.


O Centre Georges Pompidou
Saindo do Pompidou pela Rue de Beauborg é praticamente uma reta até a Place Jean-Paul II, onde o marco zero de Paris repousa em frente à Catedral de Notre Dame. Como nossa passagem por Paris era curta, tínhamos poucas horas para conhecer os monumentos da cidade e muitos deles demandavam tempo considerável em filas. Se entrássemos em alguns, não teríamos tempo para outros. Tinha pensado na Torre Eiffel e no tempo necessário para subir lá. Mas, ali, de frente para a catedral, meu pensamento maior foi: “desculpe, Gustave Eiffel, mas Notre Dame tem um peso histórico bem mais considerável”. Nos enfiamos, então, na fila e esperamos por quase uma hora e meia naquela manhã fria de outono para subir em uma das suas torres.

A entrada para a torre não fica na fachada frontal, mas em uma pequena porta do lado esquerdo, na Rue du Cloître Notre Dame. Na fila havia gente do mundo todo e eu me divertia e passava o tempo ouvindo e tentando determinar o idioma que falavam. Em determinados momentos uma garota em silêncio, porém atenciosamente, passava pela fila entregando folhetos coloridos. Quando passou por mim sorriu e perguntou com apenas uma palavra: “Brasil?” Acenei que sim e ela me entregou um folheto amarelo com informações em português sobre a catedral. Foi então que me dei conta que para cada língua havia uma cor diferente de folheto e a menina pacientemente passava pela fila identificando o idioma e entregando o folheto correspondente para cada pessoa. Pequenas coisas assim me fizeram aos poucos mudar aquela ideia de que os franceses são chatos e mal-humorados.




Detalhes da Catedral de Notre Dame


Enquanto esperava, fiquei observando e fotografando os diversos detalhes da construção: gárgulas, colunas, esculturas, vitrais… Uma hora e meia depois eu passava pela estreita porta. E então já não estava mais na Paris de 2009 e sim no meio do romance de Victor Hugo.

A entrada levava a uma longa e estreita escada em espiral. Um verdadeiro teste para o coração de claustrofóbicos. A cada volta completa da escada havia uma estreita janela, o que ia mostrando um ângulo diferente da cidade a medida que subíamos. A primeira parada nessa subida foi em uma sala pequena e alta com arcos pontiagudos na abóbada e belos vitrais na parede. Na segunda parada saímos da escada no nível intermediário da torre e de lá tivemos uma vista matadora da cidade! A sensação de ver a cidade na companhia dos vários gárgulas é quase onírica. Cada detalhe, cada escultura, cada coluna parece nos remeter a um livro de fantasia.

Primeira parada - A entrada da sala superior...







... e as visões fantásticas da torre...


Ainda naquele nível, passamos por uma pequena entrada e a paisagem mudou completamente. Escadas de madeira davam acesso aos sinos da catedral. Antes da Revolução Francesa, Notre Dame tinha 20 sinos famosos no topo das torres norte e sul. Em 1789, todos os sinos foram derretidos para a fabricação de canhões. Depois, em 1856, Napoleão 3º ofereceu quatro novos sinos, que são os que existem até hoje. Mas nem todos sucumbiram à sanha dos revoltosos. O grande sino Bourdon Emmanuel, de 1681, que está pendurado na torre sul e é considerado um dos mais belos da Europa, foi preservado. E era ele que estava na nossa frente quando terminamos de subir as escadas de madeira. Hoje o Boudon Emmanuel toca apenas em grandes celebrações religiosas como a visita de papas, funerais presidenciais e comemorações. Quando o Papa João Paulo 2º morreu em 2005, aos 84 anos, o sino tocou 84 vezes. Os outros são chamados de Angelique-Françoise, Antoi­­nette-Charlotte, Hyacin­­the-Jeanne e Denise-David, e todos eles ficam na outra torre. Ver aquele sino gigante de 13 toneladas, pendurado há mais de 300 anos naquelas estruturas de madeira, era algo surreal. Poderia acreditar que, a qualquer momento, o próprio Quasímodo iria aparecer naquela sala. Quando estávamos saindo de lá, um dos sinos da outra torre começou a bater, e isso nos proporcionou um clima todo especial naquele momento.


O Bourdon Emmanuel
De volta à escada espiral, subimos até o último nível da torre. Foram cerca de 400 degraus até ali e o que se descortinava à frente era um espetáculo maravilhoso… Uma vista em 360 graus de Paris. De lá pude distinguir vários dos monumentos da cidade. A Torre Eiffel, A Catedral dos Inválidos, O Sacré Coeur, A Torre Montparnasse, A Sainte Chapelle e outros. Sem falar na curva sinuosa do Rio Sena.

O Rio Sena

A Basilique du Sacré Coeur

Torre Eiffel e a cúpula dourada da Catedral dos Inválidos

A Torre Montparnasse

Palácio da Justiça e a Sainte Chapelle
Pena não podermos ter ficado mais tempo ali. Os tours têm tempo determinado e outras pessoas aguardavam para subir. Então descemos as escadas, dessa vez até o interior da catedral. E ela impressiona tanto por dentro quanto por fora, com seus altos arcos e inúmeros vitrais. Vi que algumas pessoas se sentavam diante de uma coluna e desenhavam as estruturas arquitetônicas. Estudantes de arquitetura, talvez. Resolvemos visitar também o Tesouro de Notredame, mas parte dele não estava acessível naquele dia e justamente a parte que mais queríamos ver, aquela que tem os restos do que se acredita ser a coroa de espinhos que foi colocada em Cristo.

Detalhes do interior

Inspiração


Tesouros de Notre Dame


Depois do passeio pela Notre Dame e voltando ao presente, decidimos continuar nossa aventura por Paris no cemitério de Pére-Lachaise. Como era muito longe e já tínhamos andado bastante, pegamos a linha 4 do metrô até a estação Réaumur-Sébastopol e, de lá, a linha 3 até Pére-Lachaise.

O cemitério de Pére-Lachaise é o maior de Paris e um dos mais famosos do mundo. Lá estão sepultadas personalidades como Balzac, La Fontaine, Proust, Cyrano de Bergerac, Oscar Wilde, Delacroix, Modigliani, Comte, Maria Callas, Chopin, Édith Piaf, Jim Morrison, Rossini, Marcel Camus, Allan Kardec e Yves Montand, entre muitos outros. O cemitério é gigante e logo na entrada há um mapa que ajuda a localizar os túmulos mais famosos. Minha curiosidade maior era conhecer o túmulo de Oscar Wilde, tombado como patrimônio histórico da França. Por muitos anos, fãs que visitaram o cemitério Pére Lachaise homenageavam o dramaturgo irlandês beijando e deixando marcas na escultura. Quando cheguei lá, havia milhares de marcas de batom e mensagens cobrindo a parte inferior do túmulo. Na sua base havia também vários bilhetes que os fãs do escritor deixavam. O túmulo foi restaurado e reinaugurado em 2011 sem as marcas de batom e com um vidro para protegê-lo da sanha de seus fãs. Mas a visão da escultura crivada de beijos era agradavelmente surreal. Andamos quase duas horas por lá e depois de visitarmos os túmulos de Wilde e Piaf, nos juntamos a uma moça alemã para procurar o de Jim Morrison. Este, que parecia ser o mais protegido, tinha uma grade que evitava a aproximação do túmulo e também uma segurança que ficava observando bem atenta todos os que se aproximavam dele.


Túmulo de Oscar Wilde

Flores e bilhetes ao bardo irlandês

Túmulo de Édith Piaf

Túmulo de Jim Morrison
Saindo de lá, pegamos o metrô e descemos na estação Saint-Sulpice para o nosso segundo “flâner” em Paris.

Visitamos a igreja de Saint-Sulpice, famosa na época pelo livro “O código Da Vinci” de Dan Brown, para conhecer o gnomon e sua linha rosa. De lá andamos pelos jardins do Luxemburgo e as ruas de suas imediações, onde ficariam as residências de D'Artagnan e os três mosqueteiros de Alexandre Dumas. Passamos pelo Palácio dos Inválidos e rumamos para o Champs de Mars e a Torre Eiffel. Pra variar, havia uma fila enorme para subir à torre.


Como já estava quase no final da tarde e queríamos ainda visitar o Louvre, passamos apenas por baixo dela e seguimos em frente até o Trocadéro. Construído no pico da colina de Chaillot, o Trocadéro encontra-se em frente ao rio Sena e da sua esplanada tive a visão mais bonita da Torre Eiffel. A vontade que dava era de ficar por lá até a tarde cair por completo, mas seguimos o nosso caminho, beirando o Rio Sena, até o Louvre.

A Torre Eiffel vista do Champs de Mars...

... vista de baixo...

... e vista da esplanada do Trocadéro.



Chegando no Louvre, tivemos uma surpresa desagradável. O Museu abria diariamente das 9 da manhã às 6 da tarde, “exceto nas terças-feiras”… ou seja, tentamos visitar o Louvre justamente no único dia que ele não abre… Só nos restou conhecer o Carrousel du Louvre, o shopping que fica no subterrâneo abaixo da pirâmide e onde se encontra também a famosa pirâmide invertida.

Cansados e frustrados, pegamos o metrô e voltamos para o hotel. Como teríamos que acordar muito cedo para ir até o aeroporto no dia seguinte, resolvemos jantar novamente nas imediações. Ainda não havia terminado a noite e eu já estava ficando com saudades de Paris.

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