domingo, 1 de março de 2015

Quer mesmo que eu seja sincera?

Se você não quiser ouvir realmente o que penso, não me peça para ser sincera. Quando tenho abertura para falar o que acho, é exatamente isso o que vou fazer. Esta introdução é apenas para ilustrar o ocorrido numa das nossas belas noites em Cabo Polônio, no Uruguai.

Fomos para lá no início de 2014. Passamos três dias no povoado localizado no Departamento de Rocha. Deixamos nossas malas no hostel onde ficamos em La Paloma e seguimos só com o necessário para Cabo Polônio, já que sabíamos que o trajeto da entrada do Parque Nacional até o povoado, seria por carros 4x4. Só veículos desse tipo são autorizados a cruzar as dunas de acesso ao vilarejo.

A população fixa é bem reduzida, mas centenas de turistas visitam o local na alta temporada. Alguns por apenas um dia, chegam pela manhã e deixam Polônio no fim da tarde. Não há energia elétrica, mas muitos estabelecimentos possuem gerador, como o hotel onde ficamos, o La Perla del Cabo.
Adoro lugares rústicos como Cabo Polônio, sempre gostei. Lá também há um farol, como outros que conhecemos no Uruguai. Aliás, conhecer faróis foi uma das nossas diversões nesta viagem, até porque tenho uma visão poética dessas torres e suas luzes de alerta aos navegadores. 


Mas o diferencial do farol de Cabo Polônio é que foi nele que Jorge Drexler (uma das minhas paixões) se inspirou para compor “12 segundos de oscuridad” (letra de Drexler e música de Vitor Ramil). Drexler não se ateve à luz emitida pelo farol a cada doze segundos, não era isso o importante para ele, mas sim aos doze segundos de escuridão no intervalo entre um flash e outro. “Un faro quieto nada sería. Guía, mientras no deje de girar. No es la luz lo que importa en verdade, son los 12 segundos de oscuridad.”

Além disso, aquele é um lugar mágico em noite de lua cheia. E demos a sorte de vê-la refletida no mar, das cadeiras de frente para a praia na varanda do quarto do hotel. Não sei dizer ao certo se foi sorte ou se o Vlad programou para que estivéssemos lá justamente numa noite de lua cheia. Mais um dos momentos em que fotos não traduzem a sensação transmitida pela imagem real.

E foi numa das noites em Polônio que, sentados em um sofá do simpático espaço do hotel, entre o restaurante e o bar, pedimos ao barman o drink Escalera al Cielo, que leva vodka, curaçao blue e vermute branco. Sabia que era típico do país e fiquei curiosa para experimentá-lo. Não lembro se perguntamos o nome do barman, mas ao pensar nele vejo o ator Thomas Haden Church. A cara dele!
Parecendo meio contrariado com o pedido, ele disse que o Escalera era um drink forte e sugeriu que eu provasse um outro, com Aperol, suco de laranja e soda. Vendo minha resistência em mudar o pedido, disse que se eu não gostasse do sugerido, poderia devolver que ele faria o Escalera al Cielo. Não fiquei muito convencida, mas com a insistência acabei aceitando.
Conclusão? Não gostei. Sem graça, fui com o Vlad até o balcão do bar, onde estavam o barman e outros funcionários, já em final de expediente, sentados nos bancos do balcão, conversando animados, alguns bebendo. Me desculpando, disse a ele que não havia gostado do drink... queria mesmo o Escalera. Sentamos, então, por lá também, ele bebeu o drink que fez para mim, ofereceu para uma das funcionárias, e começou a preparar o meu pedido original. Ficamos ali conversando um pouco, ele ofereceu Coca-Cola com Fernet (provei e também não gostei) e finalmente tomei o Escalera al Cielo. E adorei! 


O “Thomas” não gostou de eu ter devolvido e não escondeu muito bem isso. Mas... ele disse que se eu não gostasse poderia falar... e falei! Ficamos pensando o porquê de ele ter ficado contrariado e chegamos a duas deduções: porque ele era o criador do drink que devolvi ou por ciúme de eu preferir o coquetel criado por outro barman uruguaio. De qualquer forma, é bom lembrar que nem todas as mulheres gostam de drinks fraquinhos e doces. 


2 comentários:

  1. Não mesmo!
    Minha filha Juliana é um exemplo. Como brinco com ela: "Meu filho Homem" Rsrs
    Belo Lugar, Belas Fotos.

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  2. Da série "não quer saber, não pergunte" ou "se perguntar, esteja preparado para a resposta"... rs. Lindo lugar mesmo, Alcides.

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