terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Um dia especial na Lapostolle...

Um dos nossos planos quando fomos ao Chile em 2012, era conhecer vinícolas. O Chile é sem dúvida um dos países latino americanos onde a vitivinicultura se estabeleceu com grande força, por isso se tornou um dos principais destinos turísticos para os amantes de vinhos. E, como adoramos, esse seria um dos nossos passeios principais. Pesquisando pela internet, escolhemos algumas vinícolas da Rota do Vinho no Vale do Colchágua para visitar. O vale de Colchagua é um dos vales transversais da zona central do Chile, cujas terras são regadas pelas águas do rio Tinguiririca e no qual estão localizadas as cidades de San Fernando e Santa Cruz, duas das mais importantes da região. O problema é que San Fernando, uma das pontas da rota, fica a cerca de duas horas e meia de Santiago e, como não estaríamos de carro, não seria possível conhecer muitas vinícolas em pouco tempo. Escolhemos então uma delas: a Casa Lapostolle. E a escolha, no final, se mostrou perfeita!

Chegamos na Casa Lapostolle com pouco menos de meia hora de antecedência, registramos o nosso pedido para o almoço e ficamos na sala de recepção das uvas aguardando o início da nossa visita. Enquanto nosso guia não chegava, observamos o trabalho das mulheres que debulhavam os cachos e selecionavam as uvas. A recepção das uvas é feita no platô onde fica a entrada da construção. Elas são colhidas à noite, manualmente, e a seleção e limpeza iniciais são feitas apenas por mulheres.


Compramos um tour coletivo, que é bem mais barato que o individual, mas excepcionalmente aquele dia havia poucas visitas agendadas no horário que escolhemos e, para nossa surpresa, o casal que nos faria companhia não apareceu, então acabamos fazendo uma visita particular sem pagar nada a mais por isso… o dia já estava começando bem. :)

Assim que nosso guia chegou, deixamos a recepção em direção ao interior da bodega. Nela são produzidos exclusivamente o Clos Apalta e o Borobo e na visita pode-se conferir todos os estágios da produção. A construção, inaugurada em 2006, impressiona tanto por fora quanto por dentro. Toda a produção segue uma lógica de gravidade através de 6 níveis por onde o vinho vai descendo até se formar por completo.

O primeiro nível é a recepção das uvas que já tínhamos visto. Em seguida, descemos até a sala de fermentação, uma sala enorme e com controle rigoroso de umidade, cercada por pipas gigantes de carvalho francês, onde as uvas desengaçadas são depositadas e fermentam por até duas semanas. Depois disso, o vinho é acondicionado em barricas de carvalho menores e desce para o próximo piso para o primeiro estágio de envelhecimento que dura 12 meses.

Aqui o cuidado com os detalhes chegou ao ponto de a empresa comprar ao menos 5 barris do carvalho mais antigo da França, uma árvore de 1650… ou seja, alguns exemplares do Clos Apalta foram envelhecidos em madeira de mais de 300 anos! Depois da primeira mescla, desce para mais 12 meses no próximo estágio. Uma nova mescla é feita e o vinho, já com seu corte característico, vai para o último estágio: a cave. Nessa sala, além das barricas que preenchiam as paredes, uma das coisas que mais chamava atenção era uma escada abaixo da mesa que levava à impressionante coleção privada da família Lapostolle. Uma visão deslumbrante!


Provamos 3 vinhos: um Casa Lapostolle Chardonnay, um Cuveé Alexandre Cabernet Sauvignon e o especialíssimo Clos Apalta safra 2008.

Terminada a degustação, subimos novamente à recepção e, de lá, para o escritório, onde compramos uma garrafa de Cuveé Alexandre e tivemos nossa segunda surpresa.

O almoço é servido na parte superior da vinícola, porém um problema acarretado pelos terremotos sofridos no ano anterior fez com que o nosso almoço fosse transferido para a Casa Parrón, uma construção rústica de adobe no meio dos vinhedos nos cerros de Apalta. Nosso guia chamou um táxi que nos levaria até a Casa Parrón e combinamos com o taxista um valor para que ele também viesse nos buscar no final da tarde.


Quando chegamos no restaurante nossa mesa já estava pronta. O local era um espetáculo à parte… uma casa simples, com apenas algumas mesas e cercada de vinhedos por todos os lados. Ali almoçamos ao ar livre protegidos do sol por um belo caramanchão forrado de parreiras. Além de nós havia apenas um casal de americanos que já estava no meio do seu banquete.

O almoço, em estilo francês, vinha em uma sequência de 3 aperitivos, entrada, prato principal e sobremesa. Como já havíamos registrado nosso pedido assim que chegamos na bodega, não demorou muito para chegar o primeiro aperitivo: espetinhos de queijo fresco com tomate cereja e manjericão. Simples, porém leve e muito gostoso. Foi servido com o vinho Casa Sauvignon Blanc.

O seguinte foi uma curiosa mistura de caviar de salmão com sopa de abacate e brunoise de tomate. Achei estranho à princípio, mas na boca foi suave e maravilhoso.

E, para terminar em estilo bem chileno, empanadas de queijo e cebolinha francesa. Macias e saborosas como só me lembro de ter comido no Chile.


Vale anotar que o Casa Sauvignon Blanc aguentou bem todos esses aperitivos e ainda estava marcante na boca.

Depois, a entrada. Camarões especiados com pebre de mote (uma mistura chilena de ingredientes como coentro, abacate, cebola, azeite de oliva e alho com o "mote" que é o grão de trigo descascado e cozido)  e salada bouquet. Uma delícia acompanhada pelo Cuveé Alexandre Chardonnay. Ainda guardo na memória o gosto daqueles camarões e quero muito um dia poder saboreá-los novamente.

Então veio o prato principal e, com ele, a estrela da festa: o grande Clos Apalta. Eleito o melhor do mundo pela Wine Spectator em sua safra de 2005.


Para saborear esse vinho maravilhoso eu escolhi um salmão com ervas e molho reduzido de merlot, quinoa primaveral e verduras assadas. Uma festa para os sentidos!

A Lu preferiu um filé bovino ao molho reduzido de cabernet com strudel de batatas e verduras assadas. E toda essa festa de sabores fez companhia perfeita com o Clos Apalta, que tem tanino e acidez suficiente para sustentar ainda mais!

Para finalizar, a sobremesa: Um blanco y negro (Branco de gengibre e negro de chocolate) com molho de frutas vermelhas, acompanhado do famoso Grand Marnier, licor da empresa feito na França.


O almoço foi sem pressa e se esticou pela tarde. Já estávamos “altos” depois de tantos vinhos quando o casal americano foi embora e ficamos apenas nós naquele lugar bucólico e maravilhoso. Então aproveitamos o tempo de sobra para passear pelo vinhedo de petit verdot que ficava bem à frente do restaurante.

O táxi chegou na hora certa, às 5 da tarde, e nos levou até a cidade de Santa Cruz, de onde pegamos um ônibus de volta para Santiago.
Um dia de experiências sem igual. E ainda levamos o que sobrou dos vinhos para o hotel.

2 comentários:

  1. Vladimir, parabéns pela publicação! Continuem postando. Aguardo uma sobre a Grécia. Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Grande Mayer! Falarei sobre a Grécia muito em breve! ;) Obrigado pela visita e um grande abraço!

    ResponderExcluir