sexta-feira, 10 de julho de 2015

Você busca um simples passeio ou uma verdadeira viagem?

 
Fiz a minha primeira viagem sozinha quando era impossível arrumar companhia. Não conseguia marcar as férias para o mesmo período de folga de amigos e parentes ou por algum motivo eles não podiam ir. E eu não ficaria em casa por causa disso. A solução era mesmo ir sozinha. Pagava mais caro por um quarto individual de hotel, mas até achava bom. Durante o dia ia para os passeios com outras pessoas do grupo, muitas vezes à noite também, mas dormia só, gostava da privacidade.
O destino escolhido foi o nordeste brasileiro, por uma empresa de turismo. Mas dei a sorte de encontrar pessoas no grupo que optaram por não seguir os passeios já relacionados. Era um grupo grande, a maioria de solteiros. A exceção era um casal muito divertido que também topava todas com a gente. Ali tive a iniciação no esquema de dispensar roteiros pré-programados e optar em escolher empresas que oferecem os mesmos passeios por preços melhores. Também fomos a restaurantes e eventos que julgamos interessantes e não os determinados.
Na primeira viagem tinha conhecido Salvador, Maceió, Natal e Fortaleza. As que se seguiram, em outros anos, foram para as Serras Gaúchas, Porto Seguro, Recife e Itacaré, no esquemão pacote. Nas Serras Gaúchas a dificuldade de sair do roteiro foi maior. A grande maioria dos viajantes era de casais em lua de mel e tudo era muito longe. Acabei fazendo tudo com todos. Como era a única solteira e sozinha, numa noite o guia me convidou para ir a um bar que ficava em outro hotel. Fui, claro. Como dispensar um passeio? O que desagradou nesta viagem foi ter que ir ao restaurante escolhido pela empresa, ao café colonial, à vinícola... Ainda quero voltar com mais liberdade para conhecer o que me interessa, já sabendo que o ideal seria alugar um carro devido aos longos deslocamentos.
Precisei ir de mochilão para a Argentina com a Verônica e a Mônica para perceber como é muito mais interessante assumir todas as etapas da viagem, desde a compra da passagem, passando pela escolha e reserva dos hotéis ou hostels, pela decisão de quantos dias ficar em cada lugar e quais cidades visitar, quais passeios fazer, até escolher a data para voltar. Depois que você muda seu modo de viajar, impossível voltar atrás e terminar satisfeito. Foi o que aconteceu quando fui para Portugal e Espanha. Fomos por conta da JMJ, Jornada Mundial da Juventude, então éramos um grupo grande, fechado com uma empresa. E percebi que sozinha faria outro tipo de viagem. Não “vivi” alguns momentos que considerava importantes porque havia tempo estipulado, hora para voltar, enfim, não éramos donos da nossa vontade. E isso faz toda diferença em uma viagem.
Momentos de contemplação são imprescindíveis, são eles que ficarão marcados. Em Fátima, Portugal, perdi um momento importante. Ao conhecer a casa dos pastorinhos (Lúcia, Francisco e Jacinta), passamos correndo porque a guia estava nos apressando. Depois, no ônibus, ainda ouvimos a reclamação dela dizendo que perdemos muito tempo vendo uma casinha de pedra. Percebem o problema? Para mim ia muito além de uma “casinha de pedra”, o significado era muito maior, considerava importante caminhar pelos cômodos com tempo, com atenção. Mas ela não entendia isso.       
Viajar em grupos, mesmo que sem guia, também não funciona muito bem se você quiser viver o lugar, se inserir na cultura, conversar com os locais. Fomos em cinco pessoas para o Uruguai – eu, o Vlad, minha irmã, meu sobrinho e uma amiga. Quase na parte final da viagem eu e o Vlad nos separamos porque iríamos para Cabo Polônio e eles voltariam para o Brasil por Buenos Aires. Só lembro de sentarmos para um longo papo com um uruguaio quando ficamos só os dois. Fomos comer uma empanada num pequeno bar e o dono, um rapaz de cerca de 30 anos, ficou papeando com a gente enquanto tomávamos uma cerveja estupidamente gelada e ele o seu mate quente, isso com mais de 40 graus de temperatura do lado de fora. Se estivéssemos ainda os cinco, muito provável que o papo fosse somente entre nós, com uma ou outra palavra trocada com o dono do bar.
Se você não sair do seu mundo quando estiver numa viagem, não vai aproveitar, não vai atravessar as fronteiras de fato. Fazer city tour de dentro de um ônibus ou van, falar apenas com o guia que conhece sua língua, isso não faz você viajar de verdade. Ande muito a pé, pegue ônibus e metrô, informe-se com as pessoas nas ruas sobre os trajetos. Se for pegar um táxi, converse com o motorista, faça perguntas, ouça suas histórias. Aí você também terá histórias para contar, só suas. Visitar os mesmos lugares todos visitam, mas as viagens nunca são as mesmas. 

Siga viagem! E volte com histórias para contar.