Sempre fui apaixonado por mitologia. Principalmente a Grega. E visitar o berço dessa cultura já fazia parte dos meus planos há muito tempo. Por isso, ao fazer o roteiro para a minha primeira eurotrip, reservei metade do tempo para caminhar um pouquinho pela terra dos deuses.
Dos 3 países que visitei, a Grécia era o que mais me trazia expectativas, mas quando saí do metrô na praça Omonia em Atenas, a primeira sensação que tive foi a de estar em um lugar muito parecido com o centro de São Paulo. Muitos prédios, muitos carros, muita gente… Porém, foi só prestar atenção nas placas em volta que essa sensação de familiaridade sumiu… Mesmo em outra língua, placas francesas e italianas não pareciam tão estranhas quanto aquele emaranhado de caracteres gregos por todos os lados. Foi a primeira vez que me senti, por alguns instantes, desorientado nessa viagem.
Mas mesmo isso não durou muito. Com mapas da Grécia no celular e caracteres latinos em algumas placas consegui me encontrar. E lá fui eu, maís uma vez, arrastar minha mala pelas ruas de uma nova cidade.
Quase no final do caminho até o hostel, quando descia a rua Stournari, vi subir por ela uma pequena multidão gritando incompreensíveis palavras de ordem em grego. Era uma manifestação, pelo que deu para entender, contra o desemprego e a situação econômica na Grécia. Tinha ouvido falar algo sobre isso muito antes de sair do Brasil. Mas não imaginava arrastar mala no meio de uma passeata em Atenas… foi algo no mínimo surreal…
Na manhã seguinte fui conhecer o Porto de Pireus, de onde sairia dentro de dois dias o ferry para Santorini. E esse foi um dos lugares que achei mais interessantes em Atenas. Movimentadíssimo. De lá partiam a todo momento embarcações para um sem-número de ilhas. A vontade que dava era de me hospedar por perto só para ter a facilidade de acordar, escolher uma ilha para conhecer, comprar um bilhete e embarcar…
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O Porto de Pireus |
Mas não fiquei muito tempo lá. O destino naquela manhã era a Acrópole de Atenas.
Como eu disse, a Grécia foi uma parte particularmente importante nessa minha primeira eurotrip. Para falar a verdade, minha grande motivação para essa viagem sempre foi experimentar a sensação de estar no meio da Acrópole. O sonho que acalentava desde criança.
A caminhada é um pouco puxada desde a estação Acrópole até a entrada do Propileu. Mas o esforço vale a pena. A primeira construção que chama a atenção no caminho é o Odeon de Herodes Atticus, imenso anfiteatro construído em 161 D.C. e que ainda é palco para festivais e concertos. A antiga estrutura com toda a cidade de Atenas ao fundo é um visual fascinante.
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A Acrópole lá em cima... |
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Odeon de Herodes Atticus... |
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... e a cidade de Atenas como moldura. |
A entrada para a Acrópole se dá através do Propileu, que já é uma visão deslumbrante, mas também uma escadaria desafiadora, mesmo num dia de primavera. Então, se vai subir a Acrópole no verão, esteja preparado!
No alto do Propileu à direita, pode-se avistar o pequeno templo de Atena Nice (ou Niké, que significa “vitória” em grego arcaico), desafiando o tempo desde o século IV A.C. em cima de um bastião no muro oriental da Acrópole.
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A multidão subindo o Propileu... hoje, como antes... |
Terminada a subida do Propileu, a visão que se tem é de uma colina árida e desolada, com apenas algumas construções em ruínas. Duas delas chamam a atenção, o Partenon logo à frente e, ao lado à esquerda, o Erecteion.
O Partenon chama atenção, primeiramente, pelas suas dimensões. Mesmo em ruínas é uma visão magnífica, com suas colunas imponentes e os frontões decorados com inúmeras esculturas inspiradas na vida da deusa Atena. Ele foi construído por volta de 447 A.C. no ponto mais alto da colina e dedicado à deusa padroeira da cidade. Nessa época havia ali dentro uma estátua de Atena com 10 metros de altura. Há um trabalho de restauração feito há anos no Partenon, por isso a vista do templo é dividida com andaimes e guindastes.
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O frontão ocidental do Partenon. |
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Detalhe do frontão ocidental. |
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Lateral do templo. |
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Frontão oriental. |
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Vista completa da fachada oriental. |
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Detalhe em relevo do frontão oriental. |
No lado norte fica o Erecteion, no ponto mais sagrado da Acrópole. Segundo a mitologia, foi ali que Atena e Poseidon lutaram pelo domínio da cidade. Atena se saiu vitoriosa, mas os atenienses preferiram juntar os dois deuses sob o mesmo teto. Então construíram um templo onde pudessem adorar os dois deuses. A construção tem uma forma incomum que se deve à irregularidade do terreno, com diferença de cerca de 3 metros entre a parte oriental e a parte ocidental. A parte oriental da construção foi dedicada para Atena Polias, enquanto a parte ocidental servido do culto de Poseidon. O pórtico Norte do templo se distingue pela altura das suas colunas e a beleza dos capitéis enquanto o pórtico do lado sul se tornou famoso por ter seis estátuas fazendo as vezes de colunas, as famosas cariátides. O Erecteion é tido como um dos mais belos monumentos já construídos em estilo jônico.
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O Erecteion. |
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Colunas laterais. |
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As grandes colunas do pórtico norte. |
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Detalhe artístico na base de uma das colunas do pórtico norte. |
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Detalhe das cariátides no pórtico sul. |
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Pórtico sul do Erecteion com as cariátides. |
Mas além de todos os monumentos que estão na Acrópole, vale destacar que a vista de lá é de tirar o fôlego. Da Acrópole se pode ter uma visão total de Atenas e onde estão os pontos mais interessantes a serem visitados, como a Ágora, o Monte Licabetus, o Monte Filopapos, o Templo de Zeus Olímpico e o Arco de Adriano entre outros.
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O templo de Héfesto, na Ágora Antiga, visto do alto da Acrópole. |
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Monte Filopapos. |
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Templo de Zeus Olímpico. |
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Arco de Adriano. |
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Monte Licabetus. |
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Estoa de Átalo, na Ágora Antiga. |
Saindo da Acrópole o próximo local que fui visitar era também um dos pontos principais da minha viagem: o Teatro de Dionísio.
O Teatro de Dioniso foi o mais importante dos teatros da Grécia antiga. Fundado cerca de 600 anos antes de Cristo e reconstruído em pedra 200 anos depois, ainda possui algumas das fileiras originais de um total de 78 que abrigavam cerca de 17.000 espectadores. Lá me sentei numa das arquibancadas e pude ter um momento de contemplação… olhando para aquele palco onde séculos atrás foram encenadas as peças de Sófocles, Ésquilo e Eurípedes… imaginando a multidão ocupando todos os lugares. Um momento mágico!
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Detalhe da decoração em relevos no Teatro de Dionísio. |
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Detalhe das arquibancadas. |
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Momento de contemplação... |
Ainda houve tempo para subir o monte Areópago, uma colina de pedra onde acontecia o Conselho de Areopagus, um tribunal onde a lei era interpretada e criminosos eram julgados. Segundo uma passagem da Bíblia, ali naquela colina o apóstolo Paulo proferiu um discurso quando esteve em Atenas (Atos 17:16-22).
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Monte Areópago, visto da Acrópole. |
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Monte Areópago. |
Do Areópago há o acesso para a Ágora antiga e a Ágora Romana. A Ágora era um espaço público de importância fundamental na sociedade ateniense. Era limitado por mercados, feiras e uma sequência de edifícios públicos, cada um deles representando um papel diferente na vida política da cidade. Quase todas essas construções foram destruídas com o tempo, mas o templo de Héfesto ainda resiste lá como o templo grego antigo mais bem preservado do mundo. E, de fato, ao contrário do Partenon, por exemplo, ele mantém todas as suas colunas intactas e boa parte do teto original também. Deve muito de sua sobrevivência ao fato de ter sido convertido, no século VII D.C. em uma Igreja Cristã, a Igreja de São Jorge. Apesar de ser um sítio arqueológico e conservar uma cerca em sua volta, os visitantes podem se aproximar dele muito mais do que do Partenon ou de outros locais gregos.
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Colunas da Estoa de Átalo. |
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Ágora Antiga. |
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Templo de Héfesto, vista frontal. |
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Templo de Héfesto. |
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Templo de Héfesto, vista lateral. |
Outra construção ainda em pé e em bom estado de conservação é a Torre dos Ventos na Ágora Romana. Uma construção de 12 metros de altura que servia como relógio de sol, relógio de água e cata-vento. Em suas 8 faces há a representação de cada um dos oito ventos: Bóreas (N), Kaikias (NE), Eurus (E), Apeliotes (SE), Noto (S), Lips (SO), Zéfiro (O) e Siroco (NO).
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Ágora Romana e a Torre dos Ventos. |
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Ágora Romana. |
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Ágora Romana. |
A saída do Ágora Romano dá para o bairro de Plaka, com suas ruazinhas, tavernas e lojas. Hora de aproveitar outro lado de Atenas.