Quando estávamos no Coliseu, encontramos um casal de Santo André, na Grande São Paulo, que estava no último dia de viagem. Disseram que tinham acabado de voltar do Vaticano, mas ficaram desapontados quando souberam que teria uma missa do Papa no dia seguinte e não poderiam ver. Agradecemos a dica e no dia seguinte resolvemos adiantar para a parte da manhã a visita ao Vaticano que faríamos à tarde.
O metrô de Roma é bem simples. São apenas duas linhas (ou eram, em 2009). Pegamos a linha A na estação Termini e descemos na estação Ottaviano, que era a mais próxima da entrada do Vaticano. De lá, uma caminhada de vários quarteirões pela Via Ottaviano e Via di Porta Angelica até chegar às colunas que delimitam a Piazza San Pietro.
O caminho já estava apinhado de gente. Uma multidão caminhando para a mesma direção. Me lembro de ter ouvido uma romana reclamando num italiano bastante compreensível: “Sembra che il mondo intero è venuto a Roma oggi!”… E realmente era o que parecia… gente do mundo inteiro tomando aquelas proximidades.
Da Via di Porta Angelica eu já conseguia vislumbrar as colunas da praça. E atravessar a Porta Angelica foi como sair de um mundo e entrar em outro.
A Porta Angelica é uma das muitas portas que atravessam o Passetto di Borgo, um muro que liga o Vaticano ao Castel Sant’Angelo. Quando se atravessa ela, a primeira coisa que chama a atenção é o Colonnato, um conjunto de 284 colunas que partem da Basílica di San Pietro e parecem abraçar toda a praça. Acima das colunas ficam 140 estátuas de santos, cada uma com cerca de 3 metros de altura. Atravessando as colunas na altura da Porta Angelica, nos deparamos com uma barreira de detectores de metais, como nos aeroportos. Tinha tanta gente na praça que nem consegui prestar muita atenção no obelisco egípcio que fica no centro dela. Escolhemos um lugar para ficar e esperamos.
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A Porta Angelica |
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Piazza San Pietro e a Basílica lá atrás |
O obelisco egípcio |
Foi uma cena emocionante aquela gente toda em frente à belíssima Basílica de San Pietro. E quando o Papa começou a falar, foi um silêncio solene e total… Mesmo não sendo católico, assisti a missa até o fim. E aquilo me emocionou… aquelas pessoas vindas de tantos lugares diferentes do mundo. Todas movidas pela mesma fé. Reverenciando… A praça inteira calada e apenas a voz do Papa ecoando por quase duas horas. A sensação de paz… Saí dali bem mais leve do que quando entrei.
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Ouvindo Bento XVI. Silêncio. |
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Riqueza e arte... muita arte. |
Depois de mais ou menos dez minutos andando por esse corredor, atravessamos uma porta estreita e entramos na Capela Sistina. Para um amante de arte como eu, foi um momento emocionante ver diante de mim aqueles afrescos criados por alguns dos maiores artistas da história, como Raffaello, Bernini, Botticelli e outros, cobrindo as paredes. Mas o que mais chama a atenção são as obras de Michelângelo: o teto que conta a história da criação do mundo e o enorme afresco do juízo final que cobre a parede do altar.
Diferente do Foro Imperiali no dia anterior, aqui não pudemos ter qualquer momento de contemplação. Em pouquíssimo tempo a capela ficou abarrotada de gente falando alto e tirando fotos (o que descobri depois ser proibido). A saída foi um sufoco, pois o corredor estreito já estava totalmente tomado por uma multidão no sentido contrário.
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A Criação do Mundo de Michelângelo no teto da capela |
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A criação de Adão |
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O impressionante Juízo Final de Michelângelo ocupa toda a parede do altar |
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Diante do "Juízo Final"... |
Saí de lá sem conhecer o Museu do Vaticano, vai ficar para uma próxima visita à Roma. Preferimos aproveitar aquele dia conhecendo mais a cidade, afinal, teríamos que, novamente, acordar cedo para pegar o voo para Atenas. Seguimos em direção ao centro de Roma, atravessando o rio Tibre pela bela ponte Sant’Angelo, construída no segundo século depois de Cristo e ornada com estátuas de anjos. A ponte atravessa o rio na altura do Castelo Sant’Angelo, que foi construído na mesma época pelo imperador Adriano para ser o seu mausoléu e já foi usado como edifício militar na época do Império Romano, como fortaleza dos papas no período medieval e como prisão na época dos movimentos para unificação da Itália. Do seu terraço superior, tem-se a vista do Tibre, dos prédios da cidade e até mesmo do domo superior da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Mas também passamos por ele sem entrar. Esse é o grande problema de “passar” por uma cidade como Roma sem ficar alguns dias para aproveitar.
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Passetto di Borgo |
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Ponte Sant'Angelo |
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Castelo Sant'Angelo |
Logo depois da ponte, seguimos por ruas estreitas e tortuosas até o Panteon. Andar nessas ruazinhas de Roma é uma delícia. Ruas estreitas, casas muito antigas, praças que aparecem do nada. É como caminhar num filme. E a cada passo você pode esbarrar em história…
No caminho paramos em uma gelateria perto da Igreja San Salvatore in Lauro, onde tomei um dos sorvetes mais gostosos que já pude experimentar.
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Se perder nessas ruazinhas é uma delícia |
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Un delizioso gelato nel mezzo del cammin |
Mas encontrar o Panteon não estava sendo nada fácil. Continuamos andando pelas ruazinhas, passamos pela Piazza Navona, uma das mais belas praças de Roma, e, enfim, chegamos até ele.
Único edifício construído na época greco-romana que ainda se encontra em perfeito estado de conservação, o Panteon, desde que foi construído, sempre se manteve em uso: primeiro como templo dedicado a todos os deuses romanos (por isso seu nome, que significa “todos os deuses”) e desde o século VII como templo cristão. A construção tem um pórtico magnífico, com três fileiras de colunas e uma inscrição em latim que diz “M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT”, ou seja, “Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, cônsul pela terceira vez”. Mas o que salta aos olhos é a imensa cúpula em forma de esfera sem nada que a sustente e com uma abertura no meio, por onde passa sua única fonte de luz natural. Um trabalho assombroso de arquitetura, que se mantém há dois mil anos intacto no centro de Roma.
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Piazza Navona |
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O imponente Panteon |
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Altar no interior do Panteon |
Orifício na cúpula do Panteon. A única luz natural que entra. |
Terminamos o passeio na Piazza Venezia, uma das mais famosas praças romanas, onde se encontra o Vittoriano, monumento dedicado ao rei Vittorio Emanuele II – construído entre 1885 e 1911 – que abriga o corpo de um Milite Ignoto (soldado desconhecido) da Primeira Guerra Mundial representando todos os soldados mortos na guerra. Na parte superior do Vittoriano se encontra o Museo Centrale del Risorgimento. Foi de lá que tive algumas das melhores vistas da cidade.
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O Vittoriano na luz do fim da tarde |
Voltamos a pé até o hostel e dormimos bem cedo para pegar o primeiro trem até o aeroporto. Nossa aventura em Roma durou menos de dois dias.