segunda-feira, 23 de março de 2015

Glaciar Perito Moreno

O Glaciar Perito Moreno ficou na história das minhas viagens não só pela sua beleza, mas por uma frustração. Por um equívoco na contratação, compramos o passeio errado. Fomos de barco até bem perto da geleira, mas não caminhamos sobre ela, como fizeram outros amigos mochileiros em outras ocasiões. É possível caminhar sobre o gelo utilizando grampones, uma espécie de garra atada ao calçado para evitar escorregões. E oferecem até whisky resfriado com uma pedrinha do glaciar. Fui ansiosa por isso também.

Já estávamos lá, quando o guia nos informou que nosso passeio não incluía o minitrekking e não havia como contratar na hora. O mais desolador foi que descartei a possibilidade de um dia voltar para fazê-lo porque havia idade limite para a aventura, 45 anos, por ser uma caminhada com um certo grau de dificuldade, exigindo esforço. Fiquei inconformada. Há quanto tempo haviam definido essa idade? E pensava: até uma pessoa de 60 anos tem resistência para isso. Eu estava com 42 e não voltaria em tão pouco tempo.

Tive que me contentar meses depois com uma simulação durante a Adventure Sports Fair, no Centro de Exposições Imigrantes, feira de esportes de aventura. Mas... surpresa! Pesquisando atualmente, vi que o limite de idade para o minitrekking é de 65 anos. Para o Big Ice era 45, mais puxado, com nível alto de exigência física. E mesmo este teve o limite alterado para 50 anos. Ahh... ótima notícia, voltarei!




Mas conhecer Perito Moreno foi um dos grandes momentos na Patagônia argentina. A gente se sente pequenininho frente a essa natureza exuberante. O glaciar é gigante, tem cerca de 250 quilômetros quadrados de superfície, 5 quilômetros de largura, com pontos de até 60 metros de altura. Foi lá que percebi que o gelo é azul e não branco... rs. Na verdade, as geleiras ficam com esse tom por causa da compactação da neve que, sob grande pressão, com poucas bolhas de ar, adquire uma cor azul devido à absorção da luz. Quanto mais espesso for o gelo, mais azul ele parecerá. À noite, essas mesmas geleiras ficam brancas por falta de luz.



A grande atração é esperar pela queda de um pedaço da geleira. O barulho é como uma grande explosão (há quem compare a um trovão). E a maioria ficava a postos, com as câmeras ligadas, esperando a sorte de presenciar a queda e registrá-la numa filmagem. Nós tivemos sorte de ver (e ouvir), mas não conseguimos filmar a tempo. Aliás, os vídeos que você vê aqui foram feitos com celular, que naquela época não eram tão bons, por isso as imagens dão apenas uma ideia da beleza do lugar.



Conhecer a Patagônia argentina é obrigatório pra quem gosta de viagens com belas paisagens, pra quem (como eu) prefere natureza a história e monumentos. Não que eu não goste das metrópoles com suas influências culturais e artísticas, mas os monumentos naturais persistem mais vivos em minha memória.   



sexta-feira, 6 de março de 2015

Roma

Na minha viagem para a Europa em 2009, a segunda cidade que visitei foi Roma.

Saímos bem cedo de Paris depois de apenas dois dias por lá.  E chegamos em Roma sob garoa.

O caminho para o hostel era curto, mas nos hospedamos bem perto da estação Termini e por isso não sofremos demais com a garoa até chegar lá.
O hostel era, na verdade, uma guest house. Um quarto em um grande condomínio na Via Princepe Amadeo. O lugar era bem simpático e o senhor que nos atendeu foi bastante atencioso. Ele explicou onde poderíamos comprar ingresso para o Coliseu e Foro Imperiali, onde poderíamos tomar café com os tíquetes que ele nos entregou e também nos deu algumas dicas de segurança e lugares para evitar. Conversei um bocado com ele e depois fomos para o quarto esperar a garoa passar, mas naquele momento a garoa já havia se transformado em chuva e não dava sinal de esmorecer. Pensei por um momento que aquele dia em Roma estava perdido.
Mas, como teríamos apenas dois dias por lá, resolvemos pegar os guarda-chuvas e sair assim mesmo.
E a decisão se mostrou acertada!


Transporte peculiar para um dia chuvoso em Roma
As ruas, mesmo debaixo de chuva, eram convidativas para um passeio. Poderíamos ter deixado para visitar alguns pontos mais importantes no dia seguinte, sem chuva, mas como estávamos razoavelmente perto do Coliseu, resolvemos ir até lá. Saindo do hostel era apenas uma ou duas quadras até a Via Cavour, que passava pela Basílica de Santa Maria Maggiore e seguia até o Coliseu e o Foro Imperial.
A Basílica de Santa Maria Maggiore foi construída em torno de 420 e é a mais antiga igreja consagrada à Virgem Maria. Segundo a lenda, no século IV o Papa Libério teve um sonho em que a Virgem Maria lhe disse que nevaria e pediu para ele construir uma igreja em sua honra onde a  neve caísse. Quando nevou no Monte Esquilino, no dia 5 de agosto de 356, em pleno escaldante verão romano, o papa lançou as fundações da Basílica. Por isso também é chamada de Basílica de Nossa Senhora das Neves. Sua torre é a mais alta entre as existentes em Roma e o seu interior ainda apresenta a estrutura medieval original. Mas o que mais chama atenção é o teto dourado, feito com o primeiro ouro trazido por Colombo do continente americano. Para ver direito esse teto é preciso depositar uma moeda de um euro em um dispositivo na entrada que ilumina a igreja por alguns segundos. Tempo suficiente para tirar uma fotografia, mas imagino que seja um inconveniente para muitas pessoas que vão lá para fazer sua oração.


Basílica de Santa Maria Maggiore

O teto dourado
Saímos da basílica com a chuva um pouco mais fraca e passamos pelo que parecia ser uma papelaria, onde compramos um ingresso que servia para o Coliseu e o Foro Imperial.
Descendo a Via Cavour, não demorou muito para o Coliseu aparecer ao fundo de uma pequena rua. E a visão do enorme monumento ao fundo, debaixo de chuva, tinha algo de encantador. Foi para lá que seguimos.
 

No final da rua, o Coliseu
A chuva deve ter espantado a maioria dos turistas. Fora um grupo de alunos enfileirados na entrada, não havia muitas pessoas por lá. Como já tínhamos comprado os ingressos, não precisamos passar pela bilheteria e, sem filas e sem demora, entramos no Coliseu.
Estar lá dentro trouxe uma mistura de sentimentos conflitantes. Primeiro o assombro diante da grandiosidade daquela construção, o deslumbramento ao contemplar uma obra com dois mil anos de história, o peso dessa história entre suas colunas, corredores e arquibancadas… e a lembrança imaginativa e inevitável de tantas tragédias que aquele local testemunhou, principalmente ao voltar os olhos para as masmorras agora nuas, mas que antigamente se escondiam embaixo do chão da arena. E a chuva só fazia essa atmosfera ficar ainda mais forte!



Colunas que sustentam vinte séculos de história

Interior do Coliseu com suas masmorras expostas

Detalhe de um dos corredores da arena


Lá fora, o Arco de Constantino debaixo de chuva

As masmorras do Coliseu

Detalhe das trágicas masmorras
Sem pressa, ficamos um longo período ali. Aparentemente não havia limite de duração da visita e, como não pagamos um guia, estávamos nos guiando por nossa própria conta.
Saímos de lá quando demos conta que já estava ficando tarde e a entrada no Foro Imperial seria fechada. Mas antes dedicamos algum tempo ao Arco de Constantino que fica quase ao lado da entrada do Coliseu.


O Arco de Constantino

Arco de Constantino e o outro lado do Coliseu

Detalhes do Arco de Constantino

Detalhes do Arco de Constantino


Detalhes do Coliseu visto de fora


Depois de contemplar e fotografar o arco, rumamos para a Via Sacra, que é a entrada para o Foro e também a rua mais importante da antiga Roma. Logo no começo dela já se vê o Arco de Tito, mais um dos quatro arcos que ainda existem em Roma. Passamos pela entrada poucos minutos antes de fecharem. Era 5 da tarde e aquele monumento histórico estava absolutamente vazio! De lá dava para ver que ainda havia algumas pessoas no Coliseu. Imagino que pelo avançado da hora e pela chuva, que agora já tinha parado, as pessoas simplesmente desistiram de visitar o Foro. Sorte nossa! Tivemos aquele espaço só para nós.

O Arco de Tito na entrada do Foro Imperiali

Colunas do templo de Vênus e Roma

O templo de Vênus e Roma


O Foro Imperiali cobre uma grande área no vale entre os montes Palatino e Capitolino e foi o centro cívico e político do Império Romano. Dá para passar horas caminhando entre as ruínas do Templo das Virgens Vestais, do Templo de Castor e Polux, da Basílica Julia, do Templo de Saturno, do Templo de Rômulo, sistemas de esgoto, poços artesianos, casas de banho. É um passeio, em uma palavra apenas, impressionante. E tudo aquilo estava vazio. E com um sol de fim de tarde que resolveu aparecer depois da chuva, iluminando e deixando aquele cenário ainda mais espetacular. Acho que ficamos umas duas horas por lá. E ainda tivemos tempo de conhecer o Circo Máximo, que era onde aconteciam as corridas de bigas. Não tinha como não pensar em Ben-Hur…

Templo de Antonio e Faustina

Estadio de Domiciano

Domus Augusta

Arco de Jano

Templo de Castor e Pollux

Templo de Saturno


Basílica Julia

Templo de Vesta

Arco de Septimus Severus

O Foro Imperiali iluminado pelo sol do fim da tarde

Circo Massimo
Seguimos de lá até o Panteon, mas já estava fechado, então rumamos para a famosa Fontana di Trevi enquanto ainda havia luz do dia para fotografar.
Essa sim estava cheia, muito cheia!!! Foi muito difícil conseguir tirar uma foto sem aparecer um monte de turista ao redor. Acho que tivemos que esperar quase meia hora para conseguir uma. A fonte é linda, sim… mas com aquela aglomeração de gente não tinha nada de romântico nela. As pessoas jogam uma moeda na fonte para se assegurar de que um dia voltarão para Roma.




Quem vê pensa que só tinha eu lá...


Quando voltamos para o hostel, me lembrei que não joguei nenhuma moeda lá. Vou ter que voltar um dia para jogar minha moedinha…

domingo, 1 de março de 2015

Quer mesmo que eu seja sincera?

Se você não quiser ouvir realmente o que penso, não me peça para ser sincera. Quando tenho abertura para falar o que acho, é exatamente isso o que vou fazer. Esta introdução é apenas para ilustrar o ocorrido numa das nossas belas noites em Cabo Polônio, no Uruguai.

Fomos para lá no início de 2014. Passamos três dias no povoado localizado no Departamento de Rocha. Deixamos nossas malas no hostel onde ficamos em La Paloma e seguimos só com o necessário para Cabo Polônio, já que sabíamos que o trajeto da entrada do Parque Nacional até o povoado, seria por carros 4x4. Só veículos desse tipo são autorizados a cruzar as dunas de acesso ao vilarejo.

A população fixa é bem reduzida, mas centenas de turistas visitam o local na alta temporada. Alguns por apenas um dia, chegam pela manhã e deixam Polônio no fim da tarde. Não há energia elétrica, mas muitos estabelecimentos possuem gerador, como o hotel onde ficamos, o La Perla del Cabo.
Adoro lugares rústicos como Cabo Polônio, sempre gostei. Lá também há um farol, como outros que conhecemos no Uruguai. Aliás, conhecer faróis foi uma das nossas diversões nesta viagem, até porque tenho uma visão poética dessas torres e suas luzes de alerta aos navegadores. 


Mas o diferencial do farol de Cabo Polônio é que foi nele que Jorge Drexler (uma das minhas paixões) se inspirou para compor “12 segundos de oscuridad” (letra de Drexler e música de Vitor Ramil). Drexler não se ateve à luz emitida pelo farol a cada doze segundos, não era isso o importante para ele, mas sim aos doze segundos de escuridão no intervalo entre um flash e outro. “Un faro quieto nada sería. Guía, mientras no deje de girar. No es la luz lo que importa en verdade, son los 12 segundos de oscuridad.”

Além disso, aquele é um lugar mágico em noite de lua cheia. E demos a sorte de vê-la refletida no mar, das cadeiras de frente para a praia na varanda do quarto do hotel. Não sei dizer ao certo se foi sorte ou se o Vlad programou para que estivéssemos lá justamente numa noite de lua cheia. Mais um dos momentos em que fotos não traduzem a sensação transmitida pela imagem real.

E foi numa das noites em Polônio que, sentados em um sofá do simpático espaço do hotel, entre o restaurante e o bar, pedimos ao barman o drink Escalera al Cielo, que leva vodka, curaçao blue e vermute branco. Sabia que era típico do país e fiquei curiosa para experimentá-lo. Não lembro se perguntamos o nome do barman, mas ao pensar nele vejo o ator Thomas Haden Church. A cara dele!
Parecendo meio contrariado com o pedido, ele disse que o Escalera era um drink forte e sugeriu que eu provasse um outro, com Aperol, suco de laranja e soda. Vendo minha resistência em mudar o pedido, disse que se eu não gostasse do sugerido, poderia devolver que ele faria o Escalera al Cielo. Não fiquei muito convencida, mas com a insistência acabei aceitando.
Conclusão? Não gostei. Sem graça, fui com o Vlad até o balcão do bar, onde estavam o barman e outros funcionários, já em final de expediente, sentados nos bancos do balcão, conversando animados, alguns bebendo. Me desculpando, disse a ele que não havia gostado do drink... queria mesmo o Escalera. Sentamos, então, por lá também, ele bebeu o drink que fez para mim, ofereceu para uma das funcionárias, e começou a preparar o meu pedido original. Ficamos ali conversando um pouco, ele ofereceu Coca-Cola com Fernet (provei e também não gostei) e finalmente tomei o Escalera al Cielo. E adorei! 


O “Thomas” não gostou de eu ter devolvido e não escondeu muito bem isso. Mas... ele disse que se eu não gostasse poderia falar... e falei! Ficamos pensando o porquê de ele ter ficado contrariado e chegamos a duas deduções: porque ele era o criador do drink que devolvi ou por ciúme de eu preferir o coquetel criado por outro barman uruguaio. De qualquer forma, é bom lembrar que nem todas as mulheres gostam de drinks fraquinhos e doces.