sábado, 31 de janeiro de 2015

E os patches foram surrupiados!

No mochilão que fiz para a Argentina, fiquei inconformada com o absurdo do roubo dos patches da mochila que levei emprestada do Eber. Aliás, os empréstimos do Eber me salvaram - mochila, saco de dormir e isolante térmico. E as meninas levaram duas barracas e mais apetrechos para camping. A Verônica ainda me presenteou com a lanterna de cabeça e o joguinho de canivete e talheres. Foram todos uns lindos!
Então… voltando a falar sobre o furto dos patches (ou parches, em espanhol). A coisa é séria... Da mesma maneira que surrupiaram os brasões, poderiam ter pego qualquer coisa de nossas mochilas. Existe um serviço no aeroporto para embalar (plastificar) as malas, custava 30 pesos na Argentina. Mas, e a responsabilidade da companhia aérea, como fica? Eles devem garantir a segurança desde o momento da entrega da bagagem no balcão até o retorno pela esteira!

Dava orgulho andar com a mochila do Eber, linda... Com todos aqueles patches, de tantos países por onde ele passou... E deve ter sido justamente o que chamou atenção.

Despachamos as três mochilas juntas em Buenos Aires e quando chegamos a Ushuaia, as das meninas chegaram rápido. E nada da minha. Esperamos, esperamos… E quando veio… a decepção. Os poucos que sobraram arranquei e guardei para não correr mais riscos.

E lembrando dos vários serviços disponíveis no aeroporto internacional de Buenos Aires, de “protect bag”, que é a plastificação das malas, já fico imaginando uma máfia, um acordo entre os carregadores das malas que as levam até o avião e essas empresas. Tipo o flanelinha que risca seu carro se você não der aquela graninha na hora em que para na vaga.

A mochila está aí na foto. Na primeira imagem, ainda no aeroporto do Brasil. Na segunda, após a passagem por Ushuaia, lisa! Mas voltou para o Eber melhor. Na medida do possível… Porém, muito longe do que era. Comprei alguns patches por onde passamos e costurei na mochila antes de devolver. Constrangida, claro.

Fica o alerta para todos. Mesmo de mochilão há riscos.

Ou você pensava que só roubam endinheirados? 





sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Paris

Perfume…

Foi essa a primeira sensação que tive quando saí do metrô na Place D’Anvers e tive meu primeiro contato com Paris.

Havíamos chegado no Aeroporto Charles de Gaulle pouco antes das 11 horas, depois de cerca de 10 horas de voo até Milão e outras duas de Milão até Paris.

Aliás, minha grande preocupação nessa viagem sempre foi o tempo de conexão em Milão, tínhamos cerca de uma hora entre o pouso no Aeroporto de Malpensa e a partida para Paris. Me preocupava o pouco tempo para fazer a imigração e embarcar. Estávamos  munidos de todos os documentos necessários e mais um pouco: passagens, reservas nos hotéis, dinheiro, cartão de crédito, seguro saúde, carteira de vacinação, carteira de trabalho assinada etc… Mas o tempo que levaríamos ali era uma incógnita.

Pousamos em Malpensa quase meia hora antes do previsto, o que me deu algum alívio, pois teríamos meia hora a
mais. O desembarque não foi demorado, mas a grande quantidade de gente que desceu me fez imaginar a fila na imigração e voltei a me preocupar. Para meu novo alívio isso não durou muito, pois, após andar por um longo corredor, vi a quantidade de pessoas diminuir drasticamente. Seguíamos as placas que indicavam a imigração, enquanto muitos se dirigiam a outros corredores. Não havia filas e os guichês estavam bem tranquilos, no nosso havia apenas uma moça. A Teka, minha amiga que me acompanhou nessa viagem, foi na frente com sua pasta cheia de documentos, se houvesse algum problema eu tentaria ajudá-la no inglês. Mas o senhor que estava no guichê nem mesmo olhou para ela… pegou o passaporte, folheou, escolheu uma das folhas, carimbou e fez sinal para que ela seguisse. Depois foi a minha vez e ele repetiu o mesmo procedimento. Não entendemos nada… Será que havíamos pegado uma direção errada? Paramos no meio do caminho e checamos nossos passaportes. Estava ali o carimbo de entrada em Milão. Sim, era isso mesmo. Sem falar sequer uma palavra estávamos oficialmente na Europa! E o melhor, com tempo mais que suficiente para descansar antes de embarcar para Paris.

O transporte a partir dos aeroportos foi sempre muito fácil nas cidades que visitamos. Em Paris, pegamos o trem até Gare du Nord, onde, através de uma passagem subterrânea, entramos na estação La Chapelle, da linha 2 do metrô. De La Chapelle foram apenas duas estações até Anvers.


Logo que saí da estação senti um cheiro adocicado de perfume que parecia sair de um dos vários totens que havia na praça.

Arrastamos nossas malas alguns metros pelo Boulevard de Rochechouart até a Rue de Clignancourt, onde ficava o hostel. Como chegamos muito cedo e o nosso check-in seria apenas às 14 horas, deixamos lá a bagagem e saímos para dar nosso primeiro passeio, uma pequena caminhada até a Basílique du Sacré Coeur.


Boulevard de Rochechouart visto do hostel.
O hostel ficava a poucos metros da Place Saint-Pierre, aos pés da colina de Montmartre de onde se sobe até a basílica que fica em seu topo. Para subir, pode-se usar um funicular ou as escadarias na lateral da colina. Como a subida não parecia tão ameaçadora, preferimos as escadas. A colina, que também dá nome ao bairro, chama-se Montmartre (Monte dos Mártires), por ter sido o lugar do martírio de Saint Denis, o primeiro bispo de Paris e seus companheiros no século III. Foi também lá que a Companhia de Jesus (Jesuítas) foi fundada em 1534 por Santo Inácio de Loyola, São François Xavier e seus companheiros. A basílica foi construída por volta de 1875 no alto do monte e é um dos monumentos mais visitados da cidade.


Basilique du Sacré Coeur
Depois de conhecer o interior da basílica fomos para a escadaria que estava lotada de turistas. Lá pudemos ficar um bom tempo contemplando Paris. A colina de Montmartre é o ponto mais alto e a melhor vista da cidade, nada melhor do que começar por ali nossa visita. Voltamos para o hostel, fizemos o check-in sem muita demora e saímos para conhecer mais.

É muito fácil andar de metrô em Paris. São 14 linhas e sempre tem uma estação por perto. Assim, pode-se ir facilmente a qualquer lugar na cidade. Fomos a pé até a estação Barbés-Rochechouart e pegamos a linha 4 até a estação Cité. A Île de la Cité é uma das duas ilhas do rio Sena onde Paris foi fundada. Quando saímos do metrô, a primeira coisa que nos chamou a atenção foi a torre escura da Sainte Chapelle, a capela que fica escondida dentro do Palácio da Justiça. Passamos em frente à Catedral de Notre Dame e atravessamos o rio Sena pela Pont d’Arcole. Não sem antes comprar um crepe que fui comendo pelo caminho.



A Sainte Chapelle escondida dentro do Palais de Justice
Rio Sena

Hôtel de Ville


Mercado de flores na île de la Cité

Catedral de Notre Dame

Detalhe da catedral

Na Pont d'Arcole, pausa para um crepe... ou dois...
Depois de passar em frente ao Hôtel de Ville, seguimos para o Museu do Louvre. A caminhada até lá não foi muito longa, mas nos tomou bastante tempo. Quando chegamos, havia uma fila gigantesca. Resolvemos encará-la, mas, depois de quase uma hora, desistimos quando soubemos que não haveria mais tempo para entrar no Museu. Quem estava na fila conseguiria entrar apenas na galeria. Ficamos um pouco frustrados, mas voltaríamos no dia seguinte para tentar entrar.


Museu do Louvre

Museu do Louvre

Arc de Triomphe du Carrousel
Do Louvre, atravessamos o belo Jardin dês Tuileries, onde muitas pessoas curtiam momentos de contemplação em cadeiras espalhadas ao redor de dois pequenos lagos: a Bassin Octogonal (Piscina octogonal) e a Gran Bassin Rond (Grande piscina redonda). 


A Grand Bassin Rond no Jardin des Tuileries


O Jardin des Tuileries é uma verdadeira galeria a céu aberto


Passamos depois pela Place de la Concorde, a maior praça de Paris e palco de importantes acontecimentos na história da França. Foi nela que, durante a Revolução Francesa, os revoltosos instalaram a guilhotina com a qual executaram mais de mil pessoas, entre elas o Rei Luís XVI, Maria Antonieta, Lavoisier, Danton e Robespierre. No centro da praça, no exato lugar onde fora colocada a guilhotina, existe agora um enorme obelisco de mais de três mil anos que antes marcava a entrada do imponente templo de Amon em Luxor, no Egito. Esse obelisco, trocado com o vice-rei do Egito por um relógio, levou dois anos para chegar em Paris e mais três anos até ser instalado em 1836 na praça, em pé e totalmente ileso. Uma proeza fantástica para a engenharia de então.


Fontaine des Mers, na Place de la Concorde

O Obelisco de Luxor
A partir da Place de la Concorde começa a Avenue des Champs-Élysées. Aliás, a praça é parte da Via Triunfal, uma linha reta vai de leste a oeste, saindo do antigo palácio real (que hoje é o Museu do Louvre), passa sob o Arco do Triunfo do Carrossel, pelo Jardin des Tuileries, pela Place de la Concorde e sobe a Champs Elysées até o Arco do Triunfo. E já que estávamos caminhando desde o Louvre, resolvemos ir até o final dela, na Place Charles de Gaulle, uma enorme rotatória de onde saem as 12 principais avenidas de Paris e no centro da qual fica o Arco do Triunfo. Quando chegamos lá ficamos um pouco perdidos. A rotatória não tinha nenhum semáforo e o tráfego era intenso. Não via como poderíamos atravessá-la para chegar ao arco. Ficamos ali parados pensando, até que percebi duas escadas que desciam abaixo da rua. Procurei pelos cantos da avenida e vi, na esquina, a entrada do metrô. Assim passamos por baixo da rotatória e saímos ao lado do arco.


Avenue des Champs-Élysée

O Arco do Triunfo (Ou uma parte dele, pelo menos)

Detalhe do Arco
O Arco do Triunfo foi construído em comemoração às vitórias militares do Napoleão Bonaparte. Nele estão gravados os nomes de 128 batalhas e 558 generais. Em sua base situa-se o Túmulo do soldado desconhecido (1920). Pode-se subir nele, mas as filas estavam enormes e não tínhamos mais paciência para enfrentá-las. Pegamos o metrô e voltamos para o hostel.

À noite resolvemos jantar em Montmartre mesmo. Escolhemos um restaurante na Rue des 3 Frères, uma das ladeiras que descem até o Boulevard de Rochechouart. O pequeno restaurante se mostrou uma ótima escolha, muito mais calmo que aqueles apinhados de turistas nas ruas principais do bairro. O menu com entrada, prato principal e sobremesa custou 15 euros, um preço justo.

Mesmo depois de 12 horas de voo e da longa caminhada pela Via Triunfal, ainda tivemos pique para andar pelo Boulevard de Clichy, uma espécie de “distrito vermelho” de Paris e onde se encontra o Moulin Rouge.





Sucumbimos, enfim, ao cansaço e voltamos ao hostel para dormir e nos preparar para "flanar" por Paris no dia seguinte.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A língua é minha pátria e eu não tenho pátria, tenho mátria…


Eu e a Mônica não falávamos espanhol em nossa viagem à Argentina e ficamos, a princípio, dependentes da Verônica, que disse que não sabia a língua, mas falava o tempo todo. Só fui me soltando mais para o fim da viagem, mas percebi que na necessidade a gente se vira, entende e se faz entender.

Em Ushuaia, no primeiro albergue em que ficamos, o Leandro (funcionário) puxava papo o tempo todo. Curioso, questionava muito, queria saber “tudo”. E sem ninguém por perto como intérprete, nos entendíamos, na medida do possível.

Mais difícil foi no ônibus para El Calafate, com o holandês sentado ao meu lado. O espanhol dele também não era bom, assim como o meu, mas também foi possível “conversar”. Ele falou dos cinco meses de aventura pela América Latina e sobre o roubo do seu passaporte e sua grana quando passou pela Colômbia. Estava voltando para casa, para trabalhar. Mostrou fotos incríveis de suas andanças.

Já em Mendoza, as meninas ficaram na internet procurando hostel e eu fui para o locutório com uma lista de telefones na mão para saber qual tinha vaga em quarto privativo para três. A cada telefonema aprendia uma nova palavra e a utilizava no contato seguinte. E assim foi…

É claro que um país-irmão e uma língua próxima ajudam. Comecei mochilando pela Argentina talvez por esse comodismo. Confesso que com outras línguas ficaria insegura. Mas sei também que a aventura seria maior. Coincidentemente, minha segunda viagem internacional foi para Portugal e Espanha. Aí não vale, né? rs. E o Vlad que foi para a Grécia? Perdido no meio de gente falando literalmente grego! Hahaha...




domingo, 25 de janeiro de 2015

Estar lá valeu qualquer esforço


Nosso mochilão pela Argentina foi maravilhoso, mas nem tudo eram flores…

Com nossa intenção de subir de Ushuaia até o norte do país e finalizar em Buenos Aires, sabíamos que enfrentaríamos longas viagens de ônibus, mas não imaginávamos que o transporte seria tão precário. A impressão que tínhamos é que todas as estradas estavam sendo construídas. Um país em obras. E mesmo as cidadezinhas pelas quais passamos pareciam estar sendo projetadas para após o término das estradas.



Rodamos no meio do nada. Paisagens maravilhosas. Outras desérticas. Em alguns momentos guanacos, ovelhas, cavalos, uma vegetação linda… Em outros, caminhões, tratores, obras…

Não conseguimos ônibus que fosse direto ao nosso destino. Tivemos que voltar a Rio Gallegos, por exemplo, quando poderíamos ter subido direto para El Calafate. Dificuldades que diminuíram nosso aproveitamento da viagem. Não fomos, como pretendido inicialmente, à La Rioja, Salta, Córdoba… Não teríamos tempo.

Mas fomos a El Bolson, depois para Mendoza e Buenos Aires.




É bom dizer que essas dificuldades não diminuíram o prazer da jornada. É verdade que em nossa primeira viagem longa de ônibus (de Ushuaia a El Calafate), tivemos distração. Paramos várias vezes por conta da fiscalização de fronteira, mas vimos pinguim, toniñas... e fui papeando com o Marco, um holandês que sentou ao meu lado e que estava rodando a América do Sul. Gente muito boa. Mostrou fotos ótimas! Estava viajando havia cinco meses.

Na volta de El Chaltén nosso papo foi com o Humberto, um brasileiro que foi à Argentina para comprar um cachorro (!). Tínhamos encontrado ele antes, num banco onde tentávamos trocar reais por pesos.



Já a viagem de El Calafate a El Bolson foi muito mais cansativa. Bem mais longa. Passamos um dia e uma noite dentro do ônibus. Dormimos muito e tivemos a sorte de ter duas poltronas para cada uma, já que estava vazio.

Mas, voltando a falar sobre as pessoas que passam por nós em viagens… lembro da Verônica dizendo que é importante registrar esses momentos. Não tinha o costume. E por vezes me arrependi, porque são pessoas que você vai lembrar depois. De qualquer forma, estarão registradas na memória, como o Leandro do Hostel Cruz del Sur, em Ushuaia, a Glória, que também conhecemos por lá, o Marcos, do ônibus, e o Humberto, o brasileiro de El Calafate, natural de Leme, em São Paulo. Entre tantos outros…

Minha maior dificuldade neste mochilão foi a noite congelante no acampamento no Parque Nacional Los Glaciares, em El Chaltén, ao lado do Fitz Roy (além da longa viagem rumo à El Bolson). Mas os bons momentos compensam, e muito, o que parece desagradável.

A imagem do acampamento à noite, aquele céu estrelado e a paisagem que tínhamos à nossa frente, dos glaciares, como uma pintura, são indescritíveis. Qualquer esforço vale aquele prazer. Daí, o que parece ruim é apenas um detalhe.



(Fotos por Verônica Farias)